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COMO SE FORA UM CONTO
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COMO SE FORA UM CONTO
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AS FRASES DA M….!
Vá-se
lá saber porquê, dei por mim a visitar na Net o “The Art Museum Toilet Museum
of Art”. Por lá se encontram as fotografias das mais variadas casas de banho
dos museus mundiais. Desde a mais banal à mais moderna e à mais sofisticada,
por lá as vamos apreciando.
Enquanto
as via, lembrei-me das maravilhosas (pelo uso que permitiam e pelos ensinamentos
que nos davam) retretes públicas que existiam, e algumas ainda existem, cá pela
cidade, e que em tempos idos eram muito frequentadas pelos meus
concidadãos. Havia sentinas, em
catacumbas no meio da Avenida dos Aliados e no túnel para peões frente à Igreja
dos Congregados, havia-as na praia do Molhe e na praia de Gondarém bem viradas
para o mar, no meio do Jardim do Passeio Alegre e noutros lugares, todas elas
com empregados que procediam à limpeza (sempre imaculadamente limpas) e
cobravam entrada (na altura era de cinquenta centavos), um homem para a secção
dos homens e uma mulher para a secção das mulheres, onde eles liam o jornal e
ouviam um velho rádio a pilhas e elas faziam crochet ou malha, e também mictórios espalhados por muitas ruas do
Porto. A juntar a estas, havia também algumas casas de banho públicas, onde se
podia tomar um banho completo, havendo ainda uma que funciona em frente à Praça
24 de Agosto. Também as escolas, as universidades, os estádios de futebol, os
cafés e restaurantes, os museus e em geral todos os edifícios públicos, tinham
para uso dos seus frequentadores vários urinóis e casas de banho.
Nessas
retretes, com um design extremamente válido do mais banal que podia haver, com
azulejos, portas, e sanitas e urinóis de tamanhos e alturas diferentes, e
demais materiais, todos brancos, havia nas que eram mais evoluídas ou
pertencentes a espaços mais nobres, máquinas para venda de escovas e pastas de
dentes (máquinas essas já desaparecidas para dar lugar a máquinas para venda de
preservativos), e havia e ainda hoje há, inscrições de todo o género e feitio,
sobre as mais variadas coisas. No entanto, enquanto hoje o que se pode ler nas
sentinas, em especial na parte designada para os homens, quase se limita a
nomes de mulheres e seus números de telefone, por vezes com uma ou outra
descrição de serviços que prestam e com observações asquerosas baixas e
repugnantes, anos atrás, encontravam-se comentários e declarações sobre a
intolerância, sobre o racismo, sobre sexo, e até sobre política e religião.
Encontravam-se com frequência, frases profundas, pensamentos, queixas, juras de
amor eterno, poesia, mensagens com destinatário, informações económicas e
financeiras, datas a testemunhar a presença de um qualquer frequentador, tudo o
que debaixo de anonimato espelhava o quotidiano citadino. Muitos adolescentes
daquela altura, aprenderam os factos
da vida pela leitura das frases escritas nas portas e nas paredes das
sentinas públicas.
Hoje,
perdeu-se o prazer de visitar as casas de banho públicas, onde, no meio de uma
qualquer dificuldade momentânea, sempre um sorriso nos aflorava os lábios por
via da leitura dos comentários e sugestões que alguém bem intencionado lá
deixara.
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